Commodities agrícolas em novembro de 2024: Panorama mensal e projeções
Novembro de 2024 foi um mês desafiador e estratégico para o setor agrícola. Oscilações climáticas, instabilidades no mercado internacional e variações cambiais moldaram o cenário global, afetando diretamente o desempenho do agronegócio brasileiro. O país, que desempenha papel crucial no abastecimento global de alimentos, enfrentou dinâmicas complexas que exigiram resiliência e planejamento.
Além das condições climáticas e econômicas, as exportações e importações de commodities agrícolas desempenharam um papel fundamental neste contexto, refletindo os desafios e oportunidades enfrentados pelos produtores e investidores.
Clima: o impacto contínuo do El Niño
O fenômeno El Niño permaneceu como um dos principais fatores que influenciaram o desempenho agrícola em novembro. Seus efeitos variaram significativamente entre as regiões do Brasil:
- Região Sul: chuvas intensas favoreceram o plantio da soja, mas atrasaram a colheita do trigo. Em algumas áreas, o excesso de umidade comprometeu a qualidade do grão, resultando em perdas financeiras.
- Centro-Oeste: as estiagens prolongadas no Mato Grosso e Goiás afetaram negativamente o início do plantio da soja, o que poderá comprometer a produtividade da safra, caso o regime de chuvas não normalize em dezembro.
- Nordeste: continuou a sofrer com chuvas insuficientes, prejudicando culturas importantes, como o algodão e o feijão.
No cenário global, o El Niño trouxe extremos climáticos: enquanto a Austrália lidou com secas severas, os Estados Unidos tiveram um outono úmido, que beneficiou a produção de milho e soja. Esses padrões, mais pronunciados do que nos meses anteriores, influenciaram diretamente o mercado global de commodities.
Plantio e colheita: desafios mistos
Plantio
A safra de verão no Brasil avançou em ritmo desigual. A soja, principal commodity exportada pelo país, teve 80% da área total plantada até o final de novembro, segundo a Conab. Apesar das adversidades climáticas, as expectativas continuam positivas, com projeções de um aumento de 4% na produção em relação à safra anterior.
Colheita
O trigo, cuja colheita avançou lentamente no Sul, foi prejudicado pela umidade elevada, que comprometeu sua qualidade. Isso resultou em um aumento nas importações de trigo de maior qualidade, especialmente da Argentina e da Rússia, para suprir a demanda interna.
Já o milho, outra commodity relevante, teve suas estimativas de produção revisadas para baixo devido à seca no Centro-Oeste. A menor oferta interna resultou em uma pressão nos preços, ao mesmo tempo que impulsionou as exportações para mercados como China e México, que buscam diversificar suas fontes de abastecimento.
Exportações: crescimento sustentado apesar dos desafios
Novembro trouxe resultados positivos para as exportações brasileiras, especialmente no setor de grãos e carnes. Segundo dados do Ministério da Agricultura, o Brasil exportou cerca de 9 milhões de toneladas de soja, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2023. A China continuou sendo o principal destino, responsável por mais de 60% das compras.
No segmento de carnes, as exportações de carne bovina cresceram 8%, impulsionadas pela reabertura de mercados importantes, como Arábia Saudita e Filipinas, e pela valorização do dólar, que aumentou a competitividade do produto brasileiro no exterior. A carne suína também registrou aumento expressivo, com a China liderando as importações.
Em relação ao milho, novembro consolidou o Brasil como o segundo maior exportador global, atrás apenas dos EUA. A demanda internacional, especialmente da União Europeia e de países asiáticos, compensou a menor oferta interna.
Importações: pressão nos insumos
Enquanto as exportações trouxeram resultados positivos, as importações de insumos agrícolas foram impactadas negativamente pelo dólar elevado, que variou entre R$ 5,20 e R$ 6,00 em novembro. Insumos como fertilizantes, defensivos agrícolas e sementes registraram aumento nos preços, pressionando os custos de produção.
A Rússia, que se mantém como um dos principais fornecedores de fertilizantes para o Brasil, enfrentou dificuldades logísticas devido à guerra com a Ucrânia, o que encareceu ainda mais os produtos. Além disso, o Brasil aumentou suas importações de trigo e arroz, especialmente da Argentina e do Paraguai, para equilibrar o mercado interno e conter a inflação alimentar.
Mercado cambial e bolsa de valores: oscilações e oportunidades
A volatilidade cambial marcou o mês de novembro. O dólar, impulsionado pela política monetária restritiva dos EUA, elevou os custos de importação, mas, por outro lado, favoreceu as exportações agrícolas. O superávit da balança comercial agrícola foi reforçado, compensando parte das pressões inflacionárias internas.
Na bolsa de valores, o índice B3 Agro mostrou leve recuperação, especialmente nas ações de empresas exportadoras. Setores como bioenergia e insumos agrícolas tiveram desempenho positivo, refletindo as expectativas de recuperação na demanda global.
Cenário global: geopolítica e comércio internacional
No âmbito internacional, a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia e as tensões comerciais entre EUA e China mantiveram os mercados instáveis. A Rússia, embora enfrentando sanções, continuou a exportar fertilizantes para o Brasil, garantindo o abastecimento, mas a preços mais elevados.
A China, maior parceiro comercial do Brasil, intensificou as importações de soja e carnes, garantindo que a balança comercial brasileira permanecesse positiva. Por outro lado, a diversificação de mercados ganhou força, com novos acordos comerciais sendo firmados com Índia e países do Oriente Médio.
Comparativos com meses anteriores
Em relação a outubro, novembro apresentou uma leve recuperação nos preços das commodities, principalmente soja e carne bovina. O milho, entretanto, continuou sob pressão. O superávit na balança comercial agrícola foi mais robusto, com destaque para o aumento nas exportações de soja e carnes.
Em termos climáticos, os desafios se intensificaram. Se setembro e outubro já apontavam para irregularidades no regime de chuvas, novembro confirmou o cenário de extrema variabilidade, com consequências diretas na produtividade das culturas.
Projeções futuras: o que esperar de 2025
- Clima: o El Niño deverá continuar influenciando os padrões climáticos até o primeiro trimestre de 2025. Regiões como o Centro-Oeste podem enfrentar verões mais secos, exigindo maior investimento em irrigação e manejo hídrico.
- Exportações: a demanda internacional por soja e milho deve permanecer forte, especialmente com a China buscando segurança alimentar. O Brasil tem a oportunidade de expandir sua participação no mercado global, mas dependerá da capacidade de superar os desafios logísticos.
- Importações: os custos de insumos agrícolas devem permanecer elevados, pressionando os produtores. Políticas governamentais que incentivem a produção local de fertilizantes poderiam mitigar essa dependência.
- Mercado financeiro: o dólar deverá continuar oscilando em patamares elevados, enquanto a B3 Agro deve seguir positiva, especialmente para empresas ligadas à exportação e bioenergia.
Reflexões e oportunidades
Novembro de 2024 reafirmou a importância do agronegócio como pilar econômico do Brasil. O setor enfrentou desafios climáticos e econômicos significativos, mas também consolidou oportunidades, especialmente no comércio internacional. Para os próximos meses, o foco deve estar na resiliência e na adaptação, com investimentos em tecnologia, infraestrutura e diversificação de mercados.
Publicar comentário